Uma Introdução
Somos
condicionados, pressionados, monopolizados, hierarquizados,
classificados, rotulados, agrupados, distinguidos, assim, exatamente
nessa ordem, quase assimilando o discurso com o de Proudhon. Nos é
acoplada uma subjetividade completamente modulada pelo exterior, algo
que nos suga e nos completa interruptamente.
A
subversão nasce da cisão, da quebra, da tentativa de buscar uma versão
aquém do que nos é posto pelo mundo. No campo da estética ela pode ser
delimitada como as variadas versões abjetas, desconstruídas, carregadas
de peso de constentação.
Ora,
aí existe uma dialética que pulsa, pulsa e pulsa….pois pra que haja uma
contestação é necessário que do outro lado exista algo, talvez um
espelho com o qual a imagem refletida nos cause um estranhamento, uma
revolta, um enojamento e o não reconhecimento. É preciso modular novas
versões do que não nos apetece.
Em
um mundo construído pelo exterior,pelo que é dado e pelo que é
apresentado, a estética toma um papel primordial no que tange à
possibilidade de se afundar na compreensão do nosso mundo material, que é
completamente o reflexo fundamentado em toda construção moral, ética ,
política e histórica da sociedade.
Toda
brusca mudança sempre será refletida no universo material do homem, ele
sempre funcionará como uma régua passível de medir todas as dimensões
do Eu que precisa se expressar.
Na
história é possível distinguir que uma sub versão de uma cultura
hegemônica é sempre posta por sujeitos que se colocam à margem da
sociedade. O termo subcultura, propriamente dito é oriundo de estudos
recentes, que classificam a subversão como nascente a partir do pós
guerra ,porém a subcultura é nascente desde que no ocidente o mundo
material foi passível de causar o deslumbramento no homem e ser a peça
chave para formação das hierarquias, códigos e signos que fundamentam as
relações sociais.
Sempre
na história houve quem ousasse à subverter o que era posto e na
contempôraneidade as subversões partiram da juventude. Talvez seja
porque ela ainda carregue os sentimentos tenros da infância onde a
contestação sempre se fazia presente, por não entender os ditames que
comandam esse mundo tão desigual, injusto e por muitas vezes cruel,
pautado em relações humanas fúteis, vazias, sempre desinteressadas em
atingir o cerne do outro.
Em
relação ao momento histórico do pós guerra, vemos a consternação de uma
juventude em mundo em ruínas, onde os valores estavam degradados, as
relações humanas degradadas. É uma dor existencial muito profunda, de
não entender como os mais velhos, baseados em sua moral pútrida causaram
tanta destruição, tanta morte, onde o salto quântico intelectual não
foi correspondente à evolução da essência humana.
A
partir do pré estudo das subversões estéticas no século XIX e ínicio
do século XX, que ainda não estão aprofundados existencialmente no seu
tempo histórico , parto daqui no universo subcultural do século XX na
pós modernidade
Que comece a viagem!
A questão da Cultura
"Tal y como los individuos expresan su vida, así son.
Lo que son, por consiguiente, coincide con su producción, tanto con
qué producen como con cómo producen
La
clase que tiene los medios de producción material a su disposición
tiene el control, al mismo tiempo, de los medios de la producción
mental, de modo que, hablando en términos generales, las ideas de
aquellos que no poseen los medios de producción mental quedan sujetas a
ella.
[...] En la medida en la que ellos dominan como clase y determinan la
extensión y compás de una época [...] lo hacen en su rango completo,
por lo tanto, entre otras cosas, dominan también como pensadores,
como productores de ideas, y regulan la producción y la distribución
de las ideas de su tiempo: por consiguiente, sus ideas son las ideas dominantesde la época. " (Marx, 1970)
A
cultura é o cerne dos conflitos sociais, é o meio através do qual se
criam as armas mais poderosas para imposição e controle ideológico do
mais sútil possível e que abarca profundamente a condição social humana.
O
homem só é homem porque produz cultura, porque é capaz de questionar e
modificar o meio ao qual está estrelado. Mas e quando temos na produção
mais sublime do homem o mais aterrador inimigo? É pois, necessário
então a irrupção de um contra fluxo desse vir a ser maquinalmente
introjetado.
Em
Gramsci podemos colocar a hegemonia cultural pautada à medida em que um
grupo privilegiado exerce uma autoridade tão apbtura sobre um grupo
subordinado, que passa a usar não somente a força mas de uma maneira tão
mais sútil que esse poder se torna legal e natural, bem aceito, bem
quisto e defendido de forma assídua pelos subordinados.
O
jovem reflete sempre essa construção cultural, sofrendo um impacto
tremendo, onde ele absorve, repulsa ou distorce a constituição adulta
da cultura criada pelo mundo adulto.
Rosseau aponta- nos muito bem essa transitoriedade :
“
O homem não está feito para permanecer sempre criança. Ele o deixa de
ser no omento estabelecido pela natureza. Como o furor do mar que
precede um temporal, esta tempestuosa revolução se anuncia como o rumor
das paixões nascentes do próprio perigo. Uma mudança de humor, uma
contínua agitação de ânimo fazem que o adolescente se volta quase
icorrigível. As manifestações morais se dão nas manifestações fisícas.
(...) E esé o segundo nascimento quando o homem nasce verdadeiramente na
vida.
Rosseau, Emílo 1979
Estando
os sujeitos subculturais à margem da sociedade, colocamo-los como
agentes marginalizantes de todo a cultura material, com uma bruta
contestação da linearidade imposta, atrelada à uma intensa falta de
perspectivas, onde o comportamento desviado e a delinquência não são
menos desviados e delinquentes do que a conduta imposta e seguida pelo
resto da sociedade.
Sabemos
que as subculturas pós guerra tiveram origem da classe trabalhadora,
portanto estamos lidando em todos os âmbitos possíveis de uma cultura
abjeta, marginal e que tem sua gênese na crítica e no profundo choque
com o que é posto no mundo, através da vestimenta, da música, das
atividades, do ócio, e dos estilos de vida, se impondo assim, como
classe.
"As
tribos pós modernas são o cemitério para uma ética estética : a do
afeto, a do sentimento de pertencimento. É possível que tudo isso
presida no deslumbramento de uma nova maneira de estar junto. É possível
que se assista uma nova emergência de um verdadeiro ideal comunitário”
Michel Mafesoli
A irrupção de uma subcultura e sua estética abjeta
Eu experimento a abjeção só se um outro se estabeleceu no lugar que será o
“eu”. Em absoluto, não através de um outro com o qual eu me identifico e
incorporo, mas com um outro que me precede e me possui, e, através de tal
possessão me produz. (KRISTEVA, 1982)
[M]anifestaciones
de expresión individual, de autonomía y de diversi-dad cultural [...]
estas características son afines a los valores bohemios que a partir de
la postguerra y cada vez más definen las experiencias de grupos de
jóvenes de clase obrera y de clase media-baja. En este sentido,la
emergencia de una sensibilidad subcultural postmoderna (o liminal)
de
clase obrera (y su convergencia con los valores de clase
media-alta)puede remontarse a principios de los años sesenta. (Ibídem:
167)Muggleton (2000)
Parto
da tese que vestir-se é uma arte e do ato de se vestir, como uma arte
capaz de transportar para o material os mais profundos devaneios
subjetivos, bem como no caso de subculturas, de uma efetiva posição
politica no mundo. A moda e a vestimenta oriunda dela, é cultura no
sentido de que a cultura é um sistema que comporta significações através
da qual uma ordem social é comunicada e reproduzida, nos constituindo
como seres sociais.Como afirma Simmel, “ homens vestidos de modo
semelhante, comportam-se de modo semelhante” ( 2008 )
Toda
vestimenta é uma forma de comunicação dentro de suas peculiaridades, e
portanto, de um linguagem usada em diferentes contextos da vida do
sujeito, com o seu significado se alternando e ganhando outras
significações de acordo com seus diversos modos de uso e
funcionalidades.
O
estudo é pautado, portanto levando em conta todo movimento de cisão com
a cultura hegomonica que propulsiona aodevir de uma subcultura, mas
fixando a atenção permanente no choque estético, abarcando a dialética
existente entre o social/cultural que fomenta as produções estéticas.
A
vestimenta é a extensão do nosso EU, nas sociedades materiais
ocidentais, nós usamos o material para expandir nossa pseudo
subjetividade , subjetividade essa que é sempre construída pelo
exterior.
A
vestimenta subcultural é carregada de signos materiais os quais
transportam toda inquietude oriunda do caos que a própria modernidade
instaurou com os seus modos de vida impostos. Temos uma vã necessidade
de transpor por objetos o nosso cunho de diferenciação. Através dos
objetos, da estetização ideologicamente fundamentada de um estilo, vemos
todo o universo imagético e estético tomar um posicionamento politico,
mesmo que marginal, desviante, mesmo que em forma de choque, pois toda
ideologia é revestida de valor semiótico.
Os
estilos subculturais sempre foram constituídos de uma combinação de
diversos elementos que geram por si diversos significados. Usando
elementos de mercadorias pré existentes e às desvinculando do seu
significado original e dando-lhes um novo sentindo, subvertendo o seu
significo, algo certamente influenciado pelo surrealismo, que tinha a
mesma proposta de resignificar os objetos pré existentes com a intenção
de quebrar a normatividade capitalista imposta.
No
estudo ainda em andamento da obra de Dick Hedibige em Subcultura ,
Significado do Estilo é passível de se apoiar em um estudo da descrição
dos processos mediante os quais os objetos atribuem significados em
forma de estilo e na elucidação dos estilos pós-guerra. Temos em Hedbige
o estudo de como os objetos são usurpados por grupos subordinados e
lhes atribuem significados secretos. Significados esses, que se expressa
em formas de códigos e que se tornam uma subversão contra seu caráter
de subordinação.
A
fragmentação do EU na sociedade contemporânea dá vazão à quebra do Eu, e
à uma crise edipiana secundária em relação à família, o que torna o
sujeito descolocado.
Quando
falamos de sentimentos transportados pra vestimenta e pro estilo de
vida, o que pode-se pautar, na realidade, são exatamente uma profunda
dor existencial, um não pertencimento, um deslocamento bruto causado
pela não concordancia com ditames tão podres impostos cotidianamente. É o
não ver-se no outro, não ver-se nos seus pais, não ver-se na sua
familia, não ver-se no modelo educacional imposto pelo Estado, pelos
professores autoritários que querem nos encarcerar ideologicamente, não
ver-se em nada, absolutamente em nada do que nos é externo e
culturamente imposto quando vem de cima.No que tange à se encontrar e se
reconhecer no outro, de se acalentar em um lugar onde o sentimento de
pertencimento é compartilhado, como se tranposrtasse pro agrupamento uma
instancia de proteção, de seguridade, do elo perdido com uma familia
onde se conserva os mais distorcidos ideiais impostos, e na tribo, esse
resgaste se dá por essa associação.
O
choque imagético provocado por uma única pessoa que se destaca perante à
multidão entorpecida é demasiado, é como uma qebra de um fluxo
incensante que nos permeia, é como uma cisão em uma estrutura tão bem
fundamentada. A ideia portanto, é entender, e transpor através da
descrição da estética quais os sentimentos que permeavam essa irrupção
subversiva.
No
espaço público, em cafés, em boates, nas praças é onde se circula a
conversação, a palavra, a bebida, e é bebendo e conversando de assunstos
por vezes banais que se saí de sí, e a possibilidade de vivenciar esse
momento presente, coletivamente.
Assim
o tribalismo proposto em conceito por Maffesoli é tido como uma
falência das instituições, onde é posto um resgate do proximo, na
aproximação desses pequenos grupos.
O
sociólogo George Batteile (1987) nos coloca no âmbito de que a
sociedade é pois um sistema de violência e exclusão. E o abjeto é uma
coerção social, pois o que o sistema não consegue assimilar ele rejeita e
esse processo de exclusão, de rejeição está relacionado justamente com
as proibições universais da sociedade e é a partir da transgressão que o
sujeito se esvaí. Portanto TODAS as formas de vida social devem sim ser
perturbadas e questionadas ao máximo, pois a transgressão dá a
autenticidade ao humano e consegue liberá-lo da imagética torpe
provocada pela repressão.
Temos
portanto, aqui um caminho a seguir que se dará no estudo dessa estética
abjeta advinda da formação de tribos urbanas atreladas com o contexto
socio cultural de cada período, onde os signos usados pelas subculturas
passam a ser arma de luta de classes, imposição ideológica e politica no
mundo e influencia estética para os valores defendidos, onde as
subculturas atacavam a normalização e a naturalização dos controles de
aparatos ideológicos constituindo-se de uma violação simbólica da ordem
social.
Aguardem um aprofundamento dos estudos pautados em cada movimento subcultural.
Autoria de Tatiane Menezes
livre reprodução permitada desde que citada a fonte.