quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Subversão estética, um conceito, século XIX , Belle Époque.

Subversão estética, um conceito, século XIX , Belle Époque
Em pesquisa por subversões estéticas ocorridas no século XIX, em especial  na tão mistificada Belle Époque pude encontrar algo que realmente me inspirasse nas obras do pintor francês Henri de Tolouse Lautrec. Ora, certamente é porque esse pequenino homem que se tornou um grande ícone da pintura mundial é o único ou talvez um dos poucos pintores que conseguiram certamente expressar toda a intensidade e essência da vida boêmia de uma época. Comparo Lautrec aos grandes fotógrafos dos anos 70 que flagravam os ídolos do punk rock no CBGB. As mesmas facetas podem ser apresentadas, o mesmo vazio inerente a pessoas que vivem em um mundo de valores tão degradantes,em épocas onde cigarros são vendidos como alívio para o stress diário e  os tem como imponentes captações de status quo que adentram nossa aura através da fumaça cinzenta, fumaça que saí das  chaminés das grandes fábricas, dos escapamentos dos automóveis, é a era da industrialização e da transformação da vida do homem em uma vida maquínica.

Lautrec era um filho de aristocratas, pessoas muito ricas, ele viva em um castelo regado a uma vida de luxo, cuidados de sua mãe, à arte, filosofia, cultura, música. Influenciado pelo pai, Lautrec começou a pintar, pintava cavalos, paisagens. Tudo poderia andar no fluxo natural da vida de um filho de aristocrata a não ser pelo fato de Lautrec desde que nasceu, não se encaixar no mundo do qual foi oriundo. Com uma deficiência congênita que tornara seus ossos extremamente pequeninos, Lautrec era uma miniatura de homem, e isso de certa forma o encaixou nos parâmetros dos quais ele sentia uma certa atração pela sua própria condição, em uma época de beleza perfeita beirando o divino, do luxo e da pompa: dos marginais da sociedade, dos subversivos, no sentido que só a sua presença na sociedade os colocam como atores de uma nova versão de ser, de se portar e de transmitir uma essência que foge completamente da estrutura social imposta, da moral e dos bons costumes burgueses.
O fato de um aristocrata sair de um castelo que quase remetia ao paraíso apocalíptico para ir para o inferno de Montmartre, para os cabarés, para o Moulin Rouge,  e se dedicar ao deleite de pintar as facetas mais marginais da época o torna um ilustre ilustrador que esboça uma faceta carregada de existencialismo no sentindo de buscar inspiração na vida pobre e boemia de Paris, nos anos de 1890 ao lado de negros, prostitutas,  homessexuais, bêbados e ladrões.
Do pressuposto da estética,as pinturas abarcam, a postura dos sujeitos no mundo, a forma como falam, olham, caminham, a forma como escolhem suas vestimentas e ornamentam seus corpos nos lugares que frenquentavam, mostram-nos bem a face marginal  da época doce, florida, do luxo e da beleza divina. Temos em Lautrec o reflexo estilhaçado da sociedade da época, flagelos de uma subcultura que nascia nos bares, nos bordeis, na vida boemia de um pedaço da história.
Em relação as mulheres, é visível a postura de um novo sujeito que se coloca no mundo, principalmente se compararmos às mulheres dos séculos passados. Aí existe uma nova mulher que ocupa o mesmo espaço que os homens, e de fato é um avanço frente a prisão de uma vida doméstica com a qual estavam subordinadas.

A partir desse enfoque, podemos colocar portanto a obras de Lautrec como um registro de uma subcultura que nascia na boemia parisiense, uma vida vazia, que surge como um escape na linha tênue entre o consciente e o inconsciente da necessidade, por vezes imposta, e por vezes natural, de se encontrar e de reproduzir essa produção subjetiva, que fugia dos padrões hegemônicos  da época.
Texto de autoria de Tatiane Menezes
livre reprodução permitida desde que citada a fonte.


Algumas pinturas de Lautrec :


Subversão Estética, Um conceito, Introdução às Subculturas do Pós- Guerra

Uma Introdução

Somos condicionados, pressionados, monopolizados, hierarquizados, classificados, rotulados, agrupados, distinguidos, assim, exatamente nessa ordem, quase assimilando o discurso com o de Proudhon. Nos é acoplada uma subjetividade completamente modulada pelo exterior, algo que nos suga e nos completa interruptamente.
A subversão nasce da cisão, da quebra, da tentativa de buscar uma versão aquém do que nos é posto pelo mundo. No campo da estética ela pode ser delimitada como as variadas versões abjetas, desconstruídas, carregadas de peso de constentação.
Ora, aí existe uma dialética que pulsa, pulsa e pulsa….pois pra que haja uma contestação é necessário que do outro lado exista algo, talvez um espelho com o qual a imagem refletida nos cause um estranhamento, uma revolta, um enojamento e o não reconhecimento. É preciso modular novas versões do que não nos apetece.

Em  um mundo construído pelo exterior,pelo que é dado e pelo que é apresentado, a estética toma um papel primordial no que tange à possibilidade de se afundar na compreensão do nosso mundo material, que é completamente o reflexo fundamentado em toda construção moral, ética , política e histórica da sociedade.
Toda brusca mudança sempre será refletida no universo material do homem, ele sempre funcionará como uma régua passível de medir todas as dimensões do Eu que precisa se expressar.
Na história é possível distinguir que uma sub versão de uma cultura hegemônica é sempre posta por sujeitos que se colocam à margem da sociedade. O termo subcultura, propriamente dito é oriundo de estudos recentes, que classificam a subversão como nascente a partir do pós guerra ,porém a subcultura é nascente desde que no ocidente o mundo material foi passível de causar o deslumbramento no homem e ser a peça chave para formação das hierarquias, códigos e signos que fundamentam as relações sociais.

Sempre na história houve quem ousasse à subverter o que era posto e na contempôraneidade as subversões partiram da juventude. Talvez seja porque ela ainda carregue os sentimentos tenros da infância onde a contestação sempre se fazia presente, por não entender os ditames que comandam esse mundo tão desigual, injusto e por muitas vezes cruel, pautado em relações humanas fúteis, vazias, sempre desinteressadas em atingir o cerne do outro.
Em relação ao momento histórico do pós guerra, vemos a consternação de uma juventude em mundo em ruínas, onde os valores estavam degradados, as relações humanas degradadas. É uma dor existencial muito profunda, de não entender como os mais velhos, baseados em sua moral pútrida causaram tanta destruição, tanta morte, onde o salto quântico intelectual não foi correspondente à evolução da essência humana.

A partir do pré  estudo das subversões estéticas no século XIX e ínicio do século XX, que ainda não estão aprofundados existencialmente no seu tempo histórico , parto daqui no universo subcultural do século XX na pós modernidade


    Que comece a viagem!


A questão da Cultura

"Tal y como los individuos expresan su vida, así son.
Lo que son, por consiguiente, coincide con su producción, tanto con
qué producen como con cómo producen
La clase que tiene los medios de producción material a su disposición tiene el control, al mismo tiempo, de los medios de la producción mental, de modo que, hablando en términos generales, las ideas de aquellos que no poseen los medios de producción mental quedan sujetas a ella.
[...] En la medida en la que ellos dominan como clase y determinan la
extensión y compás de una época [...] lo hacen en su rango completo,
por lo tanto, entre otras cosas, dominan también como pensadores,
como productores de ideas, y regulan la producción y la distribución
de las ideas de su tiempo: por consiguiente, sus ideas son las ideas dominantesde la época. " (Marx, 1970)


A cultura é o cerne dos conflitos sociais, é o meio através do qual se criam as armas mais poderosas para imposição e controle ideológico do mais sútil possível e que abarca profundamente a condição social humana.
O homem só  é homem porque produz cultura, porque é capaz de questionar e modificar o meio ao qual está estrelado. Mas e quando temos na produção mais sublime do homem o mais aterrador inimigo? É pois, necessário então a irrupção de um contra fluxo desse vir a ser maquinalmente introjetado.

Em Gramsci podemos colocar a hegemonia cultural pautada à medida em que um grupo privilegiado exerce uma autoridade tão apbtura sobre um  grupo subordinado, que passa a usar não somente a força mas de uma maneira tão mais sútil que esse poder se torna legal e natural, bem aceito, bem quisto e defendido de forma assídua pelos subordinados.

O jovem reflete sempre essa construção cultural, sofrendo um impacto tremendo, onde ele absorve, repulsa ou distorce  a constituição adulta da cultura  criada pelo mundo adulto.  
Rosseau aponta- nos muito bem essa transitoriedade :

“ O  homem não está feito para permanecer sempre criança. Ele o deixa de ser no omento estabelecido pela natureza. Como o furor do mar que precede um temporal, esta tempestuosa revolução se anuncia como o rumor das paixões nascentes do próprio perigo. Uma mudança de humor, uma contínua agitação de ânimo fazem que o adolescente se volta quase icorrigível. As manifestações morais se dão nas manifestações fisícas. (...) E esé o segundo nascimento quando o homem nasce verdadeiramente na vida.
Rosseau, Emílo 1979

Estando os sujeitos subculturais à margem da sociedade, colocamo-los como agentes marginalizantes de todo a cultura material, com uma bruta contestação da linearidade imposta, atrelada à uma intensa falta de perspectivas, onde o comportamento desviado e a delinquência não são menos desviados e delinquentes do que a conduta imposta e seguida pelo resto da sociedade.
Sabemos que as subculturas pós guerra tiveram origem da classe trabalhadora, portanto estamos lidando em todos os âmbitos possíveis de uma cultura abjeta, marginal e que tem sua gênese na crítica e no profundo choque com o que é posto no mundo, através da vestimenta,  da música, das atividades, do ócio, e dos estilos de vida, se impondo assim, como classe.

"As tribos pós modernas  são o cemitério para uma ética estética : a do afeto, a do sentimento de pertencimento. É possível que tudo isso presida no deslumbramento de uma nova maneira de estar junto. É possível que se assista uma nova emergência de um verdadeiro ideal comunitário”
Michel Mafesoli
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A irrupção de uma subcultura e sua estética abjeta
Eu experimento a abjeção só se um outro se estabeleceu no lugar que será o
“eu”. Em absoluto, não através de um outro com o qual eu me identifico e
incorporo, mas com um outro que me precede e me possui, e, através de tal
possessão me produz. (KRISTEVA, 1982)
[M]anifestaciones de expresión individual, de autonomía y de diversi-dad cultural [...] estas características son afines a los valores bohemios que a partir de la postguerra y cada vez más definen las experiencias de grupos de jóvenes de clase obrera y de clase media-baja. En este sentido,la emergencia de una sensibilidad subcultural postmoderna (o liminal)
de clase obrera (y su convergencia con los valores de clase media-alta)puede remontarse a principios de los años sesenta. (Ibídem: 167)Muggleton (2000)
Parto da tese que vestir-se é uma arte e do ato de se vestir, como uma arte capaz de transportar para o material os mais profundos devaneios subjetivos, bem como no caso de subculturas, de uma efetiva posição politica no mundo. A moda e a vestimenta oriunda dela, é cultura no sentido de que a cultura é um sistema que comporta significações através da qual uma ordem social é comunicada  e reproduzida, nos constituindo como seres sociais.Como afirma Simmel, “ homens vestidos de modo semelhante, comportam-se de modo semelhante” ( 2008 )
Toda vestimenta é uma forma de comunicação dentro de suas peculiaridades, e portanto, de um linguagem usada em diferentes contextos da vida do sujeito, com o seu significado se alternando e ganhando outras significações de acordo com seus diversos modos de uso e funcionalidades.
O estudo é pautado, portanto levando em conta todo movimento de cisão com a cultura hegomonica que propulsiona  aodevir de uma subcultura, mas fixando a atenção permanente no choque estético, abarcando a dialética existente entre o  social/cultural que fomenta as produções estéticas.

A vestimenta é a extensão do nosso EU, nas sociedades materiais ocidentais, nós usamos o material para expandir nossa pseudo subjetividade , subjetividade essa que é sempre construída pelo exterior.
A vestimenta subcultural é carregada de signos materiais os quais transportam toda inquietude oriunda do caos que a própria modernidade instaurou com os seus modos de vida impostos. Temos uma vã necessidade de transpor por objetos o nosso cunho de diferenciação. Através dos objetos, da estetização ideologicamente fundamentada de um estilo, vemos todo o universo imagético e estético tomar um posicionamento politico, mesmo que marginal, desviante, mesmo que em forma de choque, pois toda ideologia é revestida de valor semiótico.
Os estilos subculturais sempre foram constituídos de uma combinação de diversos elementos que geram por si diversos significados. Usando elementos de mercadorias pré existentes e às desvinculando do seu significado original e dando-lhes um novo sentindo, subvertendo o seu significo, algo certamente influenciado pelo surrealismo, que tinha a mesma proposta de resignificar os objetos pré existentes com a intenção de quebrar a normatividade capitalista imposta.
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No estudo ainda em andamento da obra de Dick Hedibige em Subcultura , Significado do Estilo é passível de se apoiar em um estudo da descrição dos processos mediante os quais os objetos atribuem significados em forma de estilo e na elucidação dos estilos pós-guerra. Temos em Hedbige o estudo de como os objetos são usurpados por grupos subordinados e lhes atribuem significados secretos. Significados esses, que se expressa em formas de códigos e que se tornam uma subversão contra seu caráter de subordinação.
A fragmentação do EU na sociedade contemporânea dá vazão à quebra do Eu, e à uma crise edipiana secundária em relação à família, o que torna o sujeito descolocado.
Quando falamos de sentimentos transportados pra vestimenta e pro estilo de vida, o que pode-se pautar, na realidade, são exatamente uma profunda dor existencial, um não pertencimento, um deslocamento bruto causado pela não concordancia com ditames tão podres impostos cotidianamente. É o não ver-se no outro, não ver-se nos seus pais, não ver-se na sua familia, não ver-se no modelo educacional imposto pelo Estado, pelos professores autoritários que querem nos encarcerar ideologicamente, não ver-se em nada, absolutamente em nada do que nos é  externo e culturamente imposto quando vem de cima.No que tange à se encontrar e se reconhecer no outro, de se acalentar em um lugar onde o sentimento de pertencimento é compartilhado, como se tranposrtasse pro agrupamento uma instancia de proteção, de seguridade, do elo perdido com uma familia onde se conserva os mais distorcidos ideiais impostos, e na tribo, esse resgaste se dá por essa associação.
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O choque imagético provocado por uma única pessoa que se destaca perante à multidão entorpecida  é demasiado, é como uma qebra de um fluxo incensante que nos permeia, é como uma cisão em uma estrutura tão bem fundamentada.  A ideia portanto, é entender,  e transpor através da descrição da estética quais os sentimentos que permeavam essa irrupção subversiva.


No espaço público, em cafés, em boates, nas praças é onde se circula a conversação, a palavra, a bebida, e é bebendo e conversando de assunstos por vezes banais que se saí de sí, e a possibilidade de vivenciar esse momento presente, coletivamente.
Assim o tribalismo proposto em conceito por Maffesoli é tido como uma falência das instituições, onde é posto um resgate do proximo, na aproximação desses pequenos grupos.

O sociólogo George Batteile (1987) nos coloca no âmbito de que a sociedade é pois um sistema de violência e exclusão. E o abjeto é uma coerção social, pois o que o sistema não consegue assimilar ele rejeita e esse processo de exclusão, de rejeição está relacionado justamente com as proibições universais da sociedade e é a partir da transgressão que o sujeito se esvaí. Portanto TODAS as formas de vida social devem sim ser perturbadas e questionadas ao máximo, pois a transgressão dá a autenticidade ao humano e consegue liberá-lo da imagética torpe provocada pela repressão.



Temos portanto, aqui um caminho a seguir que se dará no estudo dessa estética abjeta advinda da formação de tribos urbanas atreladas com o contexto socio cultural de cada período, onde os signos usados pelas subculturas passam a ser arma de luta de classes, imposição ideológica e politica no mundo e influencia estética para os valores defendidos, onde as subculturas atacavam a normalização e a naturalização dos controles de aparatos ideológicos constituindo-se de uma violação simbólica da ordem social.

Aguardem um aprofundamento dos estudos pautados em cada movimento subcultural.

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Autoria de Tatiane Menezes
livre reprodução permitada desde que citada a fonte.

domingo, 31 de julho de 2016

Subversão Estética, um conceito, Dandismo, século XIX



“O dandismo é o sol poente, como astro que declina, é soberbo, sem calor e pleno de melancolia”
Charles Baudelaire

Concatenando os conceitos que serão destrinchados  em pesquisas em Subversões Estéticas na História, tratarei dos dândis, que são signos masculinos de transgressão, com toda a correlação existente entre vestimenta e estilo de vida em fins do século XIX. Me apoiarei em uma obra que certamente é o arcabouço da literatura existente sobre dandismo, a saber:O Manual do Dândi, a vida com estilo, concentrando a atenção em alguns fragmentos que nos põe a refletir sobre toda conjuntura estética e política que ornamentam o ato de se vestir dessa subcultura.

No século XIX o dandismo nasce com um emaranhado que abarca todo um estilo de vida baseado em um esteticismo decadente, degradante e rebelde, em uma aura de elegância minimalista concentrada em prazeres  hedonistas por vezes sujos e vulgares que quebram completamente com o esteriótipo da estética barroca e rococó onde os nobres usavam aqueles pós fantasmagóricos nos rostos e aquelas roupas espalhafatosas somadas à perucas e coisas do tipo.
Partindo de alguns aforismos postos na obra Manual do Dândi, em O dândi de Charles Baudelaire, podemos expor o dandismo como uma instituição à margem das leis, compactuando e aspirando com o espiritualismo e com o estoicismo no sentindo de que como expõe Baudelaire :

É bem evidente, infelizmente, que sem tempo livre e sem dinheiro, o amor não passa de uma orgia de plebeu ou do cumprimento de um dever conjugal. Torna-se, em vez de uma atração ardente ou plena fantasia, uma repugnante utilidade.
Se falo de amor a propósito do dandismo, é porque o amor é a ocupação natural dos que se dedicam ao ócio. Se falei de dinheiro é porque o dinheiro é indispensável às pessoas que cultivam suas paixões, mas o dandismo não aspira dinheiro como algo essencial. Ele deixa essas grosserias aos vulgares mortais.

Vemos o dandismo surgir como uma espécie de subterfúgio de homens que em tempos onde a democracia ainda não era toda poderosa e de que a aristocracia estava enfraquecida, aspiravam o bel prazer, a vida de ócio, de contemplação, de gozo extremo.Sujeitos deslocados de sua classe, homens descontentes, destituídos de uma ocupação, fundando uma nova espécie de aristocracia: a do bon vivant.

Na obra Tratado da Vida Elegante de Honoré Balzac, o autor cita as três classes de homens criadas pelos costumes modernos, a saber:
O homem que trabalha
o homem que pensa
O homem que nada faz

e esses três tipos de homens refletem três estilos de vida
A vida ocupada
A vida de artista
A vida elegante

O autor esboça de forma incrível as formas com as quais os estamentos de posição social fundamentam e moldam a atração ou simplesmente a aceitação inerente do estilo de vida escolhido pra se levar. Balzac diz que a partir do momento em que o homem ocupa suas mãos, ele se torna um meio, e apesar de qualquer sentimento filantrópico, na prática só os produtos de seu trabalho se tornam merecedores da nossa admiração. Ora, isso só pode ser visto como lastimável pois mesmo tendo se passado centenas de anos ainda essa realidade é experienciada em pelo século XXI mostrando-nos que ainda vivemos em uma aristocracia imposta disfarçadamente de democracia, de fascismo, de comunismo e de qualquer meio onde os ricos desfrutem de uma vida de prazeres enquanto a massa com a qual eles sustentam sua vida é apenas um meio com o qual eles se mantém em cima. E me digam, como um sujeito homem ou mulher que vive só pro trabalho, em meio a um céu cinzento, despido de cor, pois ela foi ofuscada pelos arranha céus, pelas chaminés das fábricas, pelo vai e vem das grandes metrópoles, irá ter dentre suas paixões a contemplação puramente estética do ato de se vestir? Ela foi completamente destituída dessa singularidade, pois em comer e sobreviver se concentra toda sua atenção.

"Por toda parte, o homem se posta maravilhado diante de alguns montes de pedras, e , caso se lembre dos que a empilharam, é para ter pena deles. Se ele ainda vê o arquiteto como uma grande mente, seus operários, não passa de espécies de correias de transmissão e confundem-se com os carrinhos de mão, pás e picaretas."
Balzac

Quando fala do artista, Balzac o aponta como uma exceção:

Sua ociosidade é um trabalho e seu trabalho, um repouso. Ele é, alternadamente, elegante e desleixado, veste a seu bel prazer camisa do operário, e decide-se pelo fraque trajado, pelo homem da moda, não está sujeito a leis, ele a impõe.Nos artistas a fashion não deve ser imposta, esses seres indomáveis moldam tudo a seu gosto. Se tomam posse de um símio é para transfigurá-lo.
Assim temos no dandismo uma ascese degradada, uma estética de singularidade  e negação como aponta Albert Camus.
Do ponto de vista fashionista, podemos colocar a vestimenta dândi expressa em figuras como George Bryan Brummel que foi responsável pela desconstrução do modo de se vestir dos homens da época. Existe um filme chamado Beau Brummel : This Charming Man, isso também de certa maneira remeteu-me à canção This Charming Man da banda britânica The Smiths que tráz de uma forma completamente desconstruída  a visão de um homem charmoso:


Why pamper life's complexities
When the leather runs smooth
On the passenger seat ?
A jumped-up pantry boy
Who never knew his place
I would go out tonight
But I haven't got a stitch to wear
This man said "it's gruesome
That someone so handsome should care"
Oh, this charming man
Oh, this charming man


Além de Brummel com seus lenços no pescoço, gravatas musselina e calças longas de cor azul, também temos George Byron que abriu os botões dos coletes, desamarrou as echarpes e vestiu calças longas e largas e Oscar Wilde, com seus casacos de pele, bengalas, lenços e anéis de pedra e que acabou sendo condenado a prisão por sodomia. Fora as cartolas que remitiam às chaminés das grandes industrias que estavam surgindo, todo o corpo expõe completamente essa estética do caos da nova era que insdustrializava as relações humanas.













Exemplos de dândis contemporâneos podem ser expostos nas figuras de David Bowie e sua androgenia:




É portanto dândi um ícone bôemio e rebelde de homens que aspiravam um estilo de vida disponível para poucos e apenas para aquele que transgride os modos de vida impostos.
E para inspirar, olhem como fica linda essa contemporâneidade dandista, não é todos os dias que vemos homens tão lindos passando assim pelas ruas!










Pra finalizar, temos na atualidade os dândi congoloses conhecidos também como Sapeurs, uma fotografa chamada Danielle Tamgni os fotografou pro mundo inteiro conhecê-los.
Dá só uma olhada na subcultura que eles criaram e o choque que eles causam no contraste com as vestimentas da população comum, ou como em um tom sorrateiramente satírico Balzac aponta como da massa vulgar:






 Autoria de Tatine Menezes
Livre reprodução permitida desde que citada a fonte.